terça-feira, 10 de agosto de 2010

Olhos vermelhos...

"Ali dentro, hora equilibrando-se num banco do bar, hora se desvencilhando dos vultos enérgicos do lugar, que se agitavam num frenesi de braços inertes e cabeças chacoalhantes, encontrava-se alguém.
A garota dos olhos vermelhos - de alcool e lágrima - esgueirava-se com destresa entre os corpos, pois já não tinha mais vontade de chorar.
Ela moveu-se discretamente e mais rapido do que poderia imaginar e olhou o mar de gente.
Aquele ser vivo, composto de braços ao ar, percebeu sua presença e lhe retribuiu o olhar.
A menina dos olhos vermelhos parecia cançada, mas ainda disposta a atravessa-lo. O mar de gente então, entendendo sua pretenção, se abriu, deixando-a passar. Sem êxito, a menina adentrou seu leito, mergulhando e sumindo, afogando-se e submergindo. As luzes da praia do mar de gente estalavam, e havia música, como faziam as sereias, a puxando para ainda mais fundo, mais perto do sufocante mar de braços, mais longe do ar da noite sem luar. Ali ela encontrou o conforto estranho e degradante, mas que a hipnotizava e durante aquela tempestade deixou-se afundar"

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Poemas e freses soltas...

Assimile rápido minhas palavras, pois elas são muitas
Pretensão e modéstia não costumam combinar

Resquícios do que já fui, nem a metade do que queria ser
Alguma sabedoria, pouca experiência, nenhum dever

Esqueci meus valores, refiz minhas convicções
Duvidei de minhas certezas, questionei minhas razões

Escrevi sobre pouco, julguei saber muito
Interpretei à minha maneira, da forma mais corriqueira

Repeti rimas e criei varias delas
Vagas, tolas, algumas belas
Inexpressivas, a arte de não interferir
Apenas ferir

Esperei pelos que não vieram
Chorei pelos que se opuzeram

Encantei alguns tantos que me olharam
Decepcionei os poucos que me enxergaram

Simplesmente não tentei agradar...

Próxima metamorfose

Não vou sorrir só pra ver ficar bem
Não vou ficar pra ver partir alguém

Não vou me comportar só porque convém
Não vou tomar só porque eles tomam também

Não vou roubar e ver ficar sem
Não vou reter pra ver virar refém

Não vou comer se a maioria não tem
Eu vou comer, se isso me mantém

Vou procurar e ver o quê lá vem
Vou me achar, achar algum porem

Vou ir ao mar e muito mais além
Vou viajar, só eu e mais ninguém

Raciocínio

Preenchendo lacunas da minha vida vazia
Contornando buracos dessa estrada esguia
Retrocedendo passos, buscando autonomia
Sentindo lavar a alma essa chuva fria

Caminhando descalça sobre a areia macia
Tragando a fumaça dessa cidade sombria
Rabiscando palavras sem serventia
Virando do avesso pra quebrar a monotonia

Cravando na pele desenhos de nanquim
Sujando de lodo a bonequinha de marfim

Fazendo do ócio o meu ofício
Enquanto o som da guitarra se alimenta do meu vício
(inacabado)

Interpretação

Vivendo do passado
Esperando a ponte desabar
Pressentindo algo errado
Não conseguindo respirar
Cavando em silêncio
Esperando alguém te parar
Se afundando no escuro e na imundície desse lugar
Mas talvez eu esteja exagerando
Talvez esse seja um meio de vida
Hipócrita do silêncio
Sobrevivência vegetativa.

Flerte

Hoje me mantive convicta a olhar
O olhar fixo a perscrutar
Sem medo do pudor, do flerte, do torpor
Buscando e encontrando o recíproco
O mutuo

A conversa desconexa os convence
Da inocência, do descente
Mas nós sabemos, nós nos vemos
E o que esta acontecendo
E continuamos a discimular...

Terra de loucos

Nós vamos sair e não ter pressa de chegar
Vamos conhecer o mundo, o lago mais profundo e o mais belo lugar
Deixar o que é resto e dar risada do que ficou para trás
Viver na preguiça, sem ódio ou cobiça
Fugir da ilha, ir ver o mar
Cantar esse hino, na nossa Terra de Loucos
Sentir o tempo passar aos poucos
Jogar as pernas para o ar
Pegar a estrada, viajar...

Pedido

Traga para mim a sua liberdade

Me tire dessa gaiola, me leve pra longe dessa cidade

Quero respirar ar puro, sentir o vento de um campo aberto

Perceber o tempo passar devagar

Ver o pôr-do-sol mais de perto

Viver do conto de contar estrelas

E contar as lendas de cada uma delas

Saborear a noite e o firmamento

Admitir que o que está a léguas não poderia vir mais de dentro

Conheceríamos o chão e o desejo

O conforto da solidão, o lampejo

Alimentados pela vida e mais que isso, pela vontade de viver

Até que esse mundo acabasse quando chegasse o entardecer

E você me devolveria para a segurança da gaiola

Me envolveria o tédio enquanto você iria embora

Até saciarmos mais uma fez nossa fome

Quando o vento do horizonte sussurrar outra vez nosso nome

Woodstock

Vamos fugir para woodstok
Voltar no tempo da era do rock
Fugir da merda dessa civilização
Fazer da nossa vida um imenso refrão
Assim como fizeram em stairway to heaven
Or Sgt. Pepper’s in 67

Sem mais lembrar do que nunca vivemos
Ou ficar a invejar aqueles que nunca conhecemos
Por que o show está apenas começando
Já conseguimos ouvir Hendrix tocando
A “Strat” flameja enquanto vai solando
No bumbo e caixas as baquetas marchando

Deitados no gramado de Max Yasgur
Enquanto olhamos para o céu de 40 anos atrás
Vivendo os "3 dias de música e paz"...