segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Osvaldo Montenegro

Bandolins

"Como fosse um par que
Nessa valsa triste
Se desenvolvesse
Ao som dos Bandolins...

E como não?
E por que não dizer
Que o mundo respirava mais
Se ela apertava assim

Seu colo como
Se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio
Se dançar assim

Ela teimou e enfrentou
O mundo
Se rodopiando ao som
Dos bandolins...
Como fosse um lar
Seu corpo a valsa triste
Iluminava e a noite
Caminhava assim

E como um par
O vento e a madrugada
Iluminavam a fada
Do meu botequim...

Valsando como valsa
Uma criança
Que entra na roda
A noite tá no fim

Ela valsando
Só na madrugada
Se julgando amada
Ao som dos Bandolins..."

Fantasma

Em minha mente
ainda vejo seu pálido semblante
ainda que por somente um instante
ainda que furtivo e distante
ainda que sombrio e dormente

Em meus sonhos
enquanto festejo com tantos outros rostos risonhos
enquanto danço a passos leves posso te mirar ao fundo estranho, enfadonho
mas esse é meu baile e em minha valsa me mantenho
abjuro-te, abnego, me abstenho

Em minha memória
existem remanescentes alguns lampejos de uma história
existem versos soprados de uma fábula imaginária
existe o ápice da narrativa de toda uma trajetória
e em seu final não existe felicidade ou vitória

Em meu passado
que por mais recente parece-me anuviado
fez do meu presente futuro que outrora o mais tolo já havia anunciado
fez dos retratos mais vívidos piso de areia borrado
fez dos meus medos e desejos réstias de um pretérito imperfeito e desfigurado

Em minha consciência
ainda que contra toda prudência
contra o que ainda me resta de decência
abrigarei o fantasma da relutância
ainda que este tenha seus olhos mortos e minha arrogância

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Polca

É leviano o seu jeito de agir
E embaraçoso para todos que te vêem cair
Mas ignoro a piedade
nada aqui tem a ver com caridade
e simplesmente adoro quando passa mal
Se afogando em seus fluidos, como num mergulho banal

Alimente-me um pouco mais com sua ignorância
Seu bem estar não tem tanta importância
Então eu rio da sua inconsequência
Eu me divirto com a experiência
enquanto espero pela próxima dança
A polca falha e manca ainda não me cansa

Poupe-se para seu próximo espetáculo vertiginoso
Tropeço que faz bem ao meu humor malicioso

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Coma

É no leito escuro que o corpo repousa e o coração encontra conforto
Sem lembranças, sem sentimentos, sem pessoas, sem apego
Somente aqui encontro paz
A busca por quem faça de minhas poesias canções não existe mais
Cintilam os olhos dos que ainda estão
A mercê da vil esperança ficarão
Sem qualquer resposta ou sinal vital
Ao apelo sussurrado: “livrai-nos de todo o mal...”